"Alegre-se! Tudo é de todos!"

quinta-feira, 29 de julho de 2010

vivências

O anarquismo não se limita apenas a idéia de criar comunas independentes. E, se me detive a examinar esta possibilidade, foi apenas para demostrar que, longe de ser um ideal remoto, a sociedade anarquista tornou-se um pré-requisito para a prática dos princípios ecológicos.

Sintetizando a mensagem crucial da ecologia, diremos que, ao reduzir a variedade no mundo natural, estaremos aviltando sua unidade e integridade, destruindo as forças que contribuem para a harmonia natural e para o equilíbrio duradouro e, o que é ainda mais importante, estaremos provocando um retrocesso no desenvolvimento do mundo natural.

Retrocesso que poderá eventualmente, impedir o aparecimento de outras formas mais avançadas de vida.

Sintetizando a mensagem reformadora da ecologia, poderíamos afirmar que, se desejamos promover a unidade e estabilidade do mundo natural, tornando-o mais harmonioso, precisamos estimular e preservar a variedade. Mas estimular a variedade pela variedade seria um vazio. Na natureza, ela surge espontaneamente.

As possibilidades de sobrevivência de uma nova espécie são testadas pelos rigores do clima, pela sua habilidade em enfrentar seu inimigos, pela sua capacidade de estabelecer e ampliar o espaço que ocupa no meio ambiente.

Entretanto, qualquer espécie que consegue aumentar seu território estará, ao mesmo tempo, ampliando a situação ecológica como um todo. Citando A. Gutkind, ela estará "ampliando o meio ambiente tanto para si própria quanto para qualquer outra espécie com a qual mantenha uma relação equilibrada".

Como aplicar este conceito a teoria social? Creio que para muitos leitores bastaria dizer que, na medida que o homem é parte da natureza, a ampliação do meio ambiente natural implicaria um maior desenvolvimento social.

Mas a resposta para essa pergunta é bem mais profunda do que poderiam supor ecológicos e libertários. Permintam-me retornar mais um vez a idéia ecológica que afirma ser a diversidade uma consequência da integridade e do equilíbrio.

Tendo em mente essa idéia, o primeiro passo para encontrar a resposta seria leitura de um trecho da Filosofia do anarquismo de Herbert Read, onde, ao apresentar seus "critérios de progresso", ele observa que o progresso pode ser mediado pelo grau de diferenciação existente na sociedade. Se o indivíduo é apenas uma unidade da massa coletiva, sua vida será limitada, monótona e mecânica.

Mas, se ele for uma unidade independente, poderá estar sujeito a acidentes ou azares da sorte, mas ao menos terá a chance de crescer e expressar-se. Poderá desenvolver-se – no único sentido real do termo – na consciência de sua própria força, vitalidade e alegria.

Embora não tenha encontrado seguidores, as idéias de Read nos fornecem um importante ponto de partida. O que primeiro nos chama a atenção é o fato de que, tanto ecologista como anarquista ressaltam a importancia da espontaneidade.

Na medida em que é mais que um simples técnico, o ecologista tem um tendência a desprezar o conceito de "domínio sobre a natureza" preferindo falar em "conduzir" uma situação ecológica, em gerir um ecossistema, em vez de recría-lo.

O anarquista, por sua vez, fala em espontaneidade social, em libertar o potencial da sociedade e da humanidade, em dar rédeas soltas a criatividade humana. Ambos vêem na autoridade uma força inibidora, um peso que limita o pontencial criativo de uma situação natural ou social.

Assim como o ecologista procura ampliar o alcance de um ecossistema e estimular a livre ação recíproca entre as espécie, o anarquista busca ampliar o alcance da experiência social e remover os obstáculos que possam impedir seu desenvolvimento.

O anarquismo não é apenas uma sociedade sem governo, mas uma sociedade harmoniosa que procura expor o homem a todos os estímulos da vida urbana e rural, da atividade física e mental, da sensualidade não reprimida e da espiritualidade, da solidariedade ao grupo e do desenvolvimento individual.

Na sociedade esquizóide em que vivemos, tais objetivos não só são considerados irreconciliáveis, como diametralmente opostos.

Uma sociedade anaquista deveria ser descentralizada, não apenas para que tivesse condiçõe de criar bases duradouras que garantissem o estabelecimento de relações harmoniosas entre o homem e a natureza, mas para que fosse possível dar uma nova dimensão ao relacionamente harmônico entre os próprios homens.

Há uma necessidade evidente de reduzir as dimensões das comunidades humanas – em parte para solucionar os problemas da poluição e em parte para que pudéssemos criar verdadeiras comunidades. Num certo sentido, seria necessário humanizar a humanidade.

O uso de aparelhos eletrônicos, tais como telefones, telégrafos, rádios e televisão, como forma de intermediar a relação entre as pessoas, deveria ser reduzido ao mínimo necessário.

fonte:

http://www.cedap.assis.unesp.br/cantolibertario/textos/0067.html

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