"Alegre-se! Tudo é de todos!"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

utopia


E em todos esses autores, em todas as “experiências” que eles puderam suscitar em vida ou após suas mortes, sempre o mesmo discurso. Uma recusa da sociedade do momento. Uma recusa de toda tentativa, visando somente a reformá-la. A vontade de destruir tudo para reconstruir sobre novas bases.

Mas também um igualitarismo de fachada. Uma hierarquia de fato dominada mais freqüentemente pelos filósofos e pelos cientistas. Uma negação do indivíduo. A afirmação da superioridade e do reino exclusivo do coletivo. A codificação burocrática da vida individual e social.

O papel central do Estado, de seus funcionários e de sua violência institucionalizada. A pretensão à perfeição. O desejo imbecil de parar o tempo, pois, é bem evidente, uma sociedade perfeita não tem mais necessidade de evoluir, transformar-se, modificar-se ou revolucionar-se.

A utopia é também, e sobretudo, tudo isto, e é dramático ignorar estas coisas. É por essa razão que é perigoso brincar com as ambigüidades. Na essência, a utopia é totalitária, e a revolução, libertária.

Tentar uni-las ou bancar os intrometidos, os alcoviteiros, é estúpido e não contribui em nada para fazer avançar o debate sobre a maneira de destruir o mais rápido possível o velho mundo para reconstruir um novo.

Os espaços infinitos do imaginário subversivo

Ser revolucionário, é sempre bom repetir, é ser capaz, inicialmente, de analisar o presente e o passado. Deduzir desta análise a necessidade de uma ruptura revolucionária e de uma destruição da antiga ordem e do conjunto de suas bases.

É imaginar o futuro, um futuro livre de tudo aquilo que está na origem do intolerável do momento. E é tomar o presente no peito e na raça para fazer-lhe transpor o passo ao futuro.

Mas não é substituir um intolerável por um outro intolerável. Um sistema de exploração e opressão por um outro sistema de exploração e opressão. Um Estado burguês por um Estado pseudo-operário. Uma burguesia privada por uma burguesia de Estado..., e, ainda menos, substituir uma merda por uma merda ainda pior, o totalitarismo.

Em conseqüência, nós não temos nada a ganhar em nos mostrar simpáticos ou esboçar um flerte com a utopia. O único ponto comum que temos com ela é o desejo de destruir tudo para tudo reconstruir, e este sentimento da necessidade de começar a partir de agora a pensar e a viver o futuro.

Todavia, pára aí.

Em seguida, divergimos fundamentalmente. A utopia quer parar o tempo. Nós queremos que o tempo nunca pare. A utopia quer limitar o espaço (o espaço e a arquitetura são planificados estupidamente).

Nós queremos que o espaço seja móvel. A utopia quer a hierarquia, o Estado, o totalitarismo. Nós queremos a igualdade, a livre federação dos indivíduos e dos grupos humanos, a liberdade...

Então, que as coisas sejam claras! Contrariamente ao senhor-todo-mundo, aos reformistas e aos vampiros da revolução, nós incluímos o sonho nos nossos corações, nossa imaginação é explosiva. Mas não temos necessidade, entretanto, de marchar ao passo cadenciado da utopia.

A utopia é um anjo com solas de chumbo. Fascinante, mas completamente psicopata.

O imaginário subversivo, o qual nós reivindicamos, é de uma outra espécie. Daquela da esperança. De uma esperança sem nenhum limite.

Le Monde Libertaire, n° 474, de fevereiro de 1983.

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