"Alegre-se! Tudo é de todos!"

domingo, 8 de agosto de 2010

excerto


"Neste início de milénio, as oligarquias capitalistas transcontinentais reinam no universo. A sua prática quotidiana e o seu discurso de legitimação são radicalmente contrários aos interesses da imensa maioria dos habitantes da Terra.

A globalização efectua a fusão progressiva e forçada das economias nacionais num mercado capitalista mundial e num ciberespaço unificado. Este processo provoca um formidável crescimento das forças produtivas.

Riquezas imensas são criadas a todo o instante. O modo de produção e de acumulação capitalista dá provas de uma criatividade, de uma vitalidade e de um poder absolutamente espantosos e, certamente, admiráveis.

Em pouco menos que uma década, o produto mundial bruto duplicou, e o volume do comércio mundial foi multiplicado por três. Quanto ao consumo de energia, este duplica em média todos os quatro anos.

Pela primeira vez na história, a humanidade goza de uma abundância de bens. O Planeta desmorona-se sob as riquezas. Os bens disponíveis ultrapassam em vários milhares de vezes as necessidades compreensíveis dos seres humanos.

Mas as valas comuns ganham também terreno.

Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse do sub-desenvolvimento são
a fome, a sede, as epidemias e a guerra. Elas destroem todos os anos mais homens, mulheres e crianças do que a carnificina da Segunda Guerra Mundial durante seis anos. Para os povos do Terceiro Mundo, a «Terceira Guerra Mundial» está em curso.

Todos os dias, no Planeta, cerca de 100 000 pessoas morrem de fome e das consequências imediatas da fome 2. 826 milhões de pessoas estão, hoje em dia, crônica e gravemente sub alimentadas; 34 milhões delas vivem nos países economicamente desenvolvidos do Norte; o maior número, 515 milhões, vive na Ásia, onde representa 24 por cento da população total.

Mas se considerarmos a proporção das vítimas, é a África Sub-sariana que paga o tributo mais pesado: 186 milhões de seres humanos vivem aí permanentemente mal alimentados, ou seja, 34 por cento da população total da região.

A maior parte deles sofre daquilo a que a FAO chama «fome extrema», situando-se em média a ração diária nas 300 calorias abaixo do regime de sobrevivência em condições suportáveis.

Os países mais gravemente atingidos pela fome extrema estão situados na África Subsariana (dezoito países), nas Caraíbas (Haiti) e na Ásia (Afeganistão, Bangladesh, Coreia do Norte e Mongólia).

Todos os sete segundos, na Terra, uma criança abaixo dos 10 anos morre de fome.

Uma criança com carência de alimentos adequados em quantidade suficiente, desde o nascimento até aos 5 anos, sofrerá as seqüelas do facto para o resto da vida.

Por meio de terapias delicadas praticadas sob vigilância médica, consegue-se fazer recuperar uma existência normal a um adulto que tenha estado temporariamente sub-alimentado.

Mas a uma criança de menos de 5 anos, é impossível. Privadas de alimentação, as células cerebrais sofreram danos irreparáveis. Régis Debray chama a estas crianças «os crucificados à nascença».

A fome e a má nutrição crónica constituem uma maldição hereditária:

todos os anos, dezenas de milhões gravemente sub-alimentados dão à luz dezenas de milhões de crianças irremediavelmente atingidas. Todas essas mães sub-alimentadas, e que, no entanto, dão à luz, lembram as mulheres malditas de Samuel Beckett, que «parem a cavalo num túmulo... O dia brilha um instante, depois, novamente a noite».

fonte:

Nenhum comentário:

Postar um comentário