Tudo muda, tudo é móvel no Universo, porque o movimento é a condição mesma da vida.
Outrora, os homens, que o isolamento, o ódio e o medo deixavam na sua ignorância nativa, enchendo-os do sentindo de sua própria fraqueza, só o imutável e o eterno viam em redor.
Para eles, o céu era uma abóboda sólida, um firmamento no qual estavam pregadas as estrelas. A Terra era o firme alicerce dos céus e só um milagre podia fazer oscilar sua superfície.
Mas, desde que a civilização prendeu os povos aos povos, numa mesma humanidade; desde que a História atou os séculos aos séculos; desde que a Astronomia, a Geologia fizeram mergulhar o olhar em bilhões de anos para trás – o homem deixou de ser isolado e, por assim dizer, de ser mortal. Tornou-se a consciência do imperecível Universo.
Não relacionando já a vida dos astros nem a da Terra com sua própria existência tão fugitiva, mas comparando-a com a duração da raça inteira, e com a de todos os seres que antes dele viveram, viu a abóbada celeste resolver-se num espaço infinito e a Terra transformar-se num globozinho girando no meio da Via Láctea.
A Terra firme, que ele pisa aos pés e que julgava imutável, anima-se e agita-se. As montanhas levantam-se a abaixam-se. Não são somente os ventos e as correntes oceânicas que circulam em roda do planeta os próprios continentes deslocam-se com os seus cumes e vales, põem-se a caminhar sobre a redondeza do globo.
Para explicar todas esses fenômenos geológicos, já não há necessidades de imaginar súbitas mudanças do eixo terrestre, abaixamentos gigantescos. De ordinário, não é dessa forma que procede a Natureza; é mais calma nas suas obras, modera a sua força, e as mais gradiosas transformações fazem-se sem o conhecimento dos seres que ela sustenta. Eleva as montanhas e enxuga os mares sem perturbar o vôo de um mosquito.
Certa revolução que parece a queda dum raio levou milhares de séculos a completar-se. É que o tempo pertence à Terra: renova todos os anos, sem se apressar. O seu adorno de folhas e flores; do mesmo modo, remoça, no decorrer das idades, os seus continentes pela sua superfície.
Fonte:
Anarquismo – Roteiro da libertação social, de edgar leuenroth; editora Mundo Livre; Rio de Janeiro; 1963; p. 13
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