A adoção de práticas ecológicas fortes coloca um empresário moralmente preocupado numa desvantagem enorme, de fato fatal, numa relação competitiva com seu rival – que, operando sem regras ecológicas ou preocupações morais, produz mercadorias baratas a custos baixos e tira maiores lucros para futura expansão de capital.
O mercado tem sua própria lei de sobrevivência: apenas os mais inescrupulosos pode chegar ao topo na luta competitiva.
De fato, na medida em que movimentos ambientais e suas ideologias buscam apenas moralizar quanto à malvadeza da nossa sociedade anti-ecológica e pedem mudanças em estilos de vida e atitudes pessoais, eles obscurecem a necessidade para ação social concertada e tendem a desviar a luta por mudança social de longo alcance.
Enquanto isso, as corporações estão habilmente manipulando o desejo popular por práticas pessoais ecologicamente fortes ao cultivar miragens ecológicas.
A Mercedes-Benz, por exemplo, clama numa propaganda de revista de duas páginas, decorada com pinturas de um bisão de uma caverna paleolítica, que “nós devemos trabalhar para tornar o progresso mais sustentável ecologicamente ao incluir temas ambientais no planejamento de novos produtos.”[i]
Tais mensagens são lugar-comum na Alemanha, um dos países mais poluentes da Europa ocidental. Essas propagandas são igualmente manipuladoras nos Estados Unidos, onde os poluidores-chefe declaram piamente que, para eles, “cada dia é Dia da Terra.”
O ponto que a ecologia social enfatiza não é que persuasão moral ou espiritual não sejam necessárias; elas são necessárias e podem ser educativas. Mas o capitalismo moderno é estruturalmente amoral e portanto insensível a apelos morais.
O mercado moderno é levado por imperativos próprios, independentemente de que tipo de CEO se senta no banco de motoristas da corporação ou se segura em suas barras de segurança.
A direção que essa corporação segue não depende das prescrições éticas ou inclinações pessoais mas em leis objetivas de perda, crescimento ou morte, devorar ou ser devorado, e por aí.
A máxima “negócios são negócios” nos diz explicitamente que fatores éticos, religiosos, psicológicos e emocionais não tem virtualmente espaço algum no mundo predatório da produção, lucro e crescimento.
É tremendamente enganador acreditar que podemos mudar esse mundo duro e praticamente mecânico em suas características objetivas simplesmente por meio de apelos éticos.
Uma sociedade baseada na lei do “cresça ou morra” como seu imperativo que tudo permeia deve por necessidade ter um impacto devastador sobre a primeira natureza.
Tampouco o “crescimento” aqui se refere ao crescimento populacional; a atual idéia que os países de crescimento populacional são os ecologicamente mais danosos não procede; ao contrário, os mais sérios violadores dos ciclos ecológicos se encontram nos grandes centros do mundo, que envenenam não apenas água e ar mas produzem os gases do efeito estufa que ameaçam derreter as calotas de gelo e inundar vastas áreas do planeta.
Imaginemos que pudéssemos cortar a população do mundo ao meio: o crescimento da espoliação da terra mudaria?
O Capital continuaria a insistir que seria “indispensável” ter dois ou três de cada bem doméstico, veículos motorizados ou “gadget” eletrônico quando um seria já ótimo, ou talvez demais. Além disso, os militares continuariam a exigir cada vez mais instrumentos letais de morte e devastação, e novos modelos lhes seriam fornecidos anualmente.
Nem tampouco tecnologias mais “soft”, se produzidas num mercado cresça-ou-morra, deixariam de ser usadas para fins capitalistas destrutivos.
Há dois séculos, vastas áreas de floresta na Inglaterra foram transformadas em combustível para forjas de ferro que não haviam mudado muito desde a Idade do Bronze, e velas comuns guiavam os navios abarrotados de mercadorias para todas as partes do mundo até bem adentro do século XIX.
De fato, muito dos Estados Unidos foi limpo de suas florestas, vida nativa e habitantes aborígenes com ferramentas e armas que, embora um pouco modificadas, seriam reconhecidas por homens da Renascença muitos séculos antes.
O que as técnicas modernas fizeram foi acelerar um processo que já estava bem a caminho desde o fim da Idade Média.
Elas não podem ser tidas como unicamente responsáveis por práticas que aconteciam havia séculos; elas só aumentaram o dano causado pelo sistema de mercado sempre a se expandir, cujas raízes, por sua vez, estavam numa das transformações sociais mais fundamentais da história: a elaboração de um sistema de produção e distribuição baseado na troca ao invés da ajuda complementar e mútua.
notas:
[i] Der Spiegel (16 de setembro 1991), pp. 144-45.
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