O Segundo olhar: Não queremos o poder político.
Quando olhamos para a forma como se exerce o poder nos estados modernos uma pergunta surge, será suficiente a tomada do poder político, concebido este como o poder do estado, o poder que alguns consideram como o único e o mais importante?
Nós cremos que não.
Que o poder do estado atualmente é um poder inevitável, sim, mas não é todo o poder. Mais importante do que quem esta no poder é que quem está exercendo o poder, obedeça.
A esquerda construiu uma idéia providencial e heróica da tomada do poder.
O caminho da transformação ou da queda do capitalismo é uma grande odisséia, quase sempre encabeçada por um herói, que se enche de dor e sofrimento no final do caminho, a vitória, isto é, a tomada do poder é a grande chegada, o grande dia, o momento em que se bifurca a história em duas grandes etapas.
Num antes e num depois.
A partir daí, e SÓ a partir daí, a história e o homem começavam a mudar. É o que alguns pensadores chamam de estratégia de dois passos: tomar o poder e depois, e só depois, mudar as relações.
A estratégia dos nossos movimentos sociais girava ao redor desta rota. Era uma estratégia, digamos, estadocêntrica.
Mas esta idéia também esta mudando, ainda que siga sendo muito importante. O que propomos é uma mudança nas formas de tomada de decisão com novos e coletivos controles baseados na democracia direta e em conselhos populares.
Concebemos a direção como resultado de um processo coletivo democrático e não como a vanguarda clarificante que deve guiar-nos ao grande dia da transformação. A história está cheia de exemplos de como o estado e sua força não são o único referencial popular e muitas vezes nem o mais importante.
Há outras áreas, "alguma outra coisa" outras formas colegiadas e diretas de vivenciar o poder. Esta não é só uma proposta ética, senão uma proposta que desarticula a lógica do poder tal e como a conhecemos.
Desarticular as regras do poder implica evidentemente em luta acima, contra os senhores do poder e a exploração, mas também abaixo, entre nós, rompendo os esquemas de dominação em nossas famílias, trabalho e escolas; entre homens e mulheres, entre adultos e jovens, entre raças, em nossas organizações e coletivos, em nossas relações cotidianas.
É gerar uma nova relação que permita a construção de um contra poder que decida de baixo para acima, que se auto-governe e determine a si mesmo. Implica construir uma ordem social diferente da atual.
Esta proposta é crítica a toda lógica do sistema em seu conjunto e não só do governo da vez. É uma proposta de desarticulação de todos os mecanismos de dominação e não só uma crítica aos dominadores.
Mandar obedecendo significa vivenciar já este contra poder em nossas relações e não em um futuro longínquo. Implica a democratização cada vez mais profunda do novo poder e o correspondente processo de devolução das funções de decisão usurpadas pelo capital dos trabalhadores.
Não há que tomar o poder, senão construí-lo. Não há que tomar o sistema por assalto, há que desconstruí-lo e nesse processo experimentar, desenhar, sonhar, um novo sistema.
segue...
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